
Tratamento do Câncer de Mama: avanços, novas drogas e o futuro da oncologia personalizada
O tratamento do câncer de mama passou por transformações significativas nos últimos anos.
O avanço da ciência tem permitido abordagens cada vez mais personalizadas, eficazes e menos invasivas, com o objetivo não apenas de aumentar a sobrevida, mas também de preservar a qualidade de vida das pacientes.
Neste artigo, destacamos as principais novidades em drogas, tecnologias e técnicas cirúrgicas que estão mudando o cenário do tratamento do câncer de mama — com uma linguagem acessível tanto para colegas da saúde quanto para pacientes bem informadas.
Novas Drogas e Terapias-Alvo: tratamento sob medida
A era da medicina personalizada já é uma realidade no câncer de mama.
Hoje, a escolha do tratamento vai muito além do tipo histológico e estadiamento — envolve uma análise detalhada do perfil molecular do tumor.
Principais destaques:
- Inibidores de CDK4/6 (palbociclib, ribociclib, abemaciclib):
revolucionaram o tratamento do câncer de mama hormônio-positivo HER2-negativo metastático, aumentando a sobrevida livre de progressão com poucos efeitos colaterais. - Inibidores de PARP (olaparibe):
indicados para pacientes com mutações BRCA1/2 e tumores triplo negativos ou luminais, tanto em cenário metastático quanto adjuvante. - Imunoterapia (atezolizumabe, pembrolizumabe):
usada em subtipos triplo negativos, especialmente quando há expressão de PD-L1.
[Essas terapias vêm mostrando ganhos expressivos de resposta patológica completa quando combinadas à quimioterapia neoadjuvante.] - Terapias anti-HER2 de nova geração:
- Trastuzumabe deruxtecana (Enhertu®️): anticorpo-droga conjugado com excelentes resultados, inclusive em pacientes HER2-low.
- Tucatinibe: opção eficaz para pacientes metastáticas com envolvimento de sistema nervoso central.
Testes Genômicos e Biópsia Líquida: decisões mais precisas
A personalização do tratamento também passa pelos testes genômicos, que ajudam a evitar quimioterapias desnecessárias.
Exemplos de testes:
- Oncotype DX, MammaPrint, EndoPredict — painéis que estimam o benefício da quimioterapia em tumores iniciais hormônio-positivos HER2-negativos.
- Biópsia líquida:
análise do DNA tumoral circulante no sangue, técnica emergente que promete detecção precoce de recidiva e monitoramento em tempo real da resposta ao tratamento.
Avanços nas Técnicas Cirúrgicas: menos é mais
A cirurgia também evoluiu, com foco em preservação, estética e segurança oncológica.
Tendências atuais:
- Cirurgias conservadoras da mama, associadas à radioterapia, são indicadas na maioria dos casos iniciais — com excelentes resultados estéticos e oncológicos.
- Mamoplastias oncológicas (cirurgias oncoplásticas): permitem maior ressecção tumoral com melhor simetria e resultado visual.
- Mastectomia com preservação de pele e complexo aréolo-papilar:
realidade cada vez mais comum, inclusive em casos profiláticos ou com mutações genéticas. - Técnicas minimamente invasivas (clip, radioisótopos, sementes magnéticas):
refinam a abordagem do linfonodo sentinela e das lesões não palpáveis, com menor morbidade.
Radioterapia Personalizada e Mais Rápida
A radioterapia hipofracionada — com menos sessões — já é padrão em muitos casos de câncer inicial, mantendo a eficácia e oferecendo mais comodidade.
Outras inovações incluem:
- Radioterapia intraoperatória: aplicada durante a cirurgia, evitando semanas de tratamento posterior;
- Radioterapia parcial da mama: irradiação apenas da área acometida, com menor toxicidade e tempo reduzido.
Inteligência Artificial e Monitoramento Digital
A IA (Inteligência Artificial) está sendo incorporada ao cuidado oncológico:
- Auxílio no diagnóstico por imagem;
- Análise automatizada de lâminas histológicas;
- Estratificação de risco e decisão terapêutica personalizada.
Além disso, apps, wearables e plataformas digitais já são usados para:
- Monitorar sintomas, fadiga e efeitos colaterais;
- Acompanhar adesão ao tratamento;
- Promover integração entre paciente e equipe de saúde.
Pesquisas em Andamento: o que vem por aí?
As frentes de pesquisa mais promissoras incluem:
- Vacinas terapêuticas para câncer de mama HER2+ e triplo negativo;
- Novas combinações de imunoterapia + terapias-alvo;
- Estudos sobre a microbiota intestinal e sua influência na resposta ao tratamento;
- Desenvolvimento de terapias hormonais seletivas, como SERDs orais (degradadores seletivos do receptor de estrogênio).
Considerações Finais
Estamos vivendo uma era de inovação e precisão no tratamento do câncer de mama.
O desafio agora é traduzir os avanços científicos em benefício real para as pacientes, garantindo acesso, equidade e cuidado centrado na pessoa.
Como mastologistas, precisamos nos manter atualizadas, mas sem perder o olhar humano diante da tecnologia.
A melhor terapia ainda é aquela feita sob medida — com escuta, empatia e ciência.
Para quem quiser se aprofundar:
- NCCN Guidelines – Breast Cancer (2025)
- ASCO & ESMO Updates
- SABCS – San Antonio Breast Cancer Symposium
- The New England Journal of Medicine – Oncology Section